segunda-feira, 30 de junho de 2008

Na vida real como na tela do computador


Jornal Gazeta do Sul
Santa Cruz do Sul Ano 63 - sábado e domingo, 24 e 25 de março de 2007

Na vida real como na tela do computador

“As paredes escuras e úmidas tornam o ambiente mais frio. Ouço passos. Ainda em busca de um kit médico, me escondo. Alguém passa apressadamente. Ouço a explosão na sala ao lado. Ele foi atingido por granadas, talvez morto. Fico apreensivo em sair de meu esconderijo – há muitos outros como eu aqui, todos querendo manter-se vivos e ganhar. Mas não tenho chance, fraco e machucado como estou, mesmo que permaneça escondido... Saio correndo, desesperadamente. Posso ouvir nitidamente minha respiração ofegante. Entro por um corredor repleto de vitrais... Como mágica, apareço em outra parte do labirinto, praticamente desarmado... Nova tentativa, quantas eu quiser. Exploro o salão em que estou e sigo à direita. Encontro um lançador de granadas...”.

O relato acima mostra como pensa uma pessoa praticante de jogos on-line. Na declaração apresentada por meio do um site no qual é oferecido tratamento psicológico para viciados em internet, o jogador deixa claro a mistura de sentimentos entre o real e o virtual. Como a maioria dos games opera em primeira pessoa, o competidor tem a sensação de estar vendo as mesmas imagens que o personagem de computador e acaba transferindo essas sensações para a vida real.

“A vivacidade da experiência em jogos eletrônicos é fascinante para os aficcionados. Tão fascinante que há quem se vicie neste tipo de jogo. Ficar muitas horas frente ao computador, abdicar do sono e desinvestir das relações sociais são alguns dos sintomas desse novo tipo de compulsão que tende a criar um novo estereótipo: os viciados em jogos eletrônicos”, explica o psicólogo Marcelo Salgado. Natural de Fortaleza, ele foi um dos primeiros brasileiros a criar um serviço de apoio para viciados em internet na própria rede mundial de computadores. O site www.fortalnet.com.br/psyberterapia divulga o trabalho de cyberterapeuta que funciona com atendimento por e-mail. Desde 1997, Salgado vem pesquisando essa nova metodologia e já prestou centenas de atendimentos.

Para ele, a dependência de jogos eletrônicos pode representar uma nova forma de compulsão. Contudo, salienta que esse tipo de comportamento atinge uma minoria de usuários. “O que pede mais reflexão antes de julgarmos se a tecnologia dos jogos em rede é realmente mais uma das ameaças dos novos tempos”, diz. Como se trata de uma mania ainda nova, os riscos de tudo isso ainda estão sendo estudados.

O serviço de cyberterapia, que representa uma novidade no País, no entanto, não é unanimidade no meio psicológico. Há uma corrente de profissionais que defende o tratamento presencial com o olho no olho. Outros, no entanto, não vêem problemas na iniciativa. “O fato é que há pessoas precisando de atendimento em saúde mental que não vão, nunca iriam ou nunca mais voltarão ao consultório tradicional”, afirma Marcelo Salgado. O contato com ele pode ser feito pelo e-mail mssalgado@fortalnet.com.br.

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